Infelizes borboletas no estômago
(Este poema é sobre borboletas no estômago,
mas este poema não é uma história feliz)
Eu tinha borboletas no estômago
e na primeira vez que ele gritou comigo
elas ficaram quietinhas, assustadas,
mas continuaram ali.
Eu tinha borboletas no estômago,
mas quando ele me deu um tapa na cara
naquela briga num sábado à noite
quando um homem me olhou porque eu estava usando aquele decote,
as borboletas dentro de mim se encolheram e ficaram juntinhas,
todas formando um bolo de asas coloridas.
Eu tinha borboletas no estômago,
mas aí veio a primeira surra porque atrasei o jantar
e aí eu senti, eu senti, uma borboleta morrer.
Eu tinha borboletas no estômago,
mas então veio uma segunda surra,
uma terceira surra,
e dali adiante incontáveis tapas, puxões de cabelo e sangue
meu sangue!
escorrendo pela minha boca e pelo meu corpo.
E a cada briga, cada grito, cada surra
uma borboleta dentro de mim morria.
Eu tinha borboletas no estômago
e quando a maioria delas já tinha morrido,
ele me trouxe flores, me levou para jantar e disse que me amava
e naquela noite eu senti
as poucas borboletas que ainda viviam se multiplicarem dentro de mim
(realmente borboletas gostam de flores, não é?)
Eu tinha borboletas no estômago
mas naquela noite quando ele chegou bêbado
segurando uma arma, dizendo mil coisas que não faziam sentido
eu senti minhas borboletas se desesperarem, batendo suas asas de modo caótico.
Eu tinha borboletas no estômago
até o momento que ele atirou em mim, meu corpo jogado no chão,
um, dois, três tiros
e então as borboletas passaram pelos buracos das balas,
uma a uma se foram embora.
Eu tinha borboletas no estômago
e quem dera, quem me dera
eu mesma tivesse matado essas malditas borboletas
antes que ele tivesse feito isso comigo.
Ray Olunar